

'Do mesmo sangue': Mongólia lembra com emoção o legado do papa Francisco
A pequena comunidade católica da Mongólia expressou sua tristeza e gratidão nesta semana, após a morte do papa Francisco, relembrando a visita do pontífice como um gesto histórico e profundamente pessoal para incluir uma das congregações mais remotas do mundo.
O jesuíta argentino, que morreu na última segunda-feira (21) de páscoa, aos 88 anos, se tornou o primeiro papa a pisar no país asiático, onde o budismo é a religião majoritária, em setembro de 2023.
"Era uma pessoa humilde, elegante e pacífica", comentou Bilegmaa Sukhbaatar, uma professora aposentada, de 62 anos, que conheceu o pontífice durante sua visita ao país.
"Quando segurei suas mãos, senti uma grande virtude", disse à AFP, visivelmente emocionada. "Perdê-lo foi devastador, como perder um membro da família, alguém do próprio sangue", complementou.
A viagem, de quatro dias, de Francisco à Mongólia se concentrou no diálogo inter-religioso, no alcance missionário e no incentivo à pequena comunidade católica do país, de cerca de 1.400 fiéis.
Na noite de quarta-feira (23), uma missa de réquiem foi realizada na Catedral de São Pedro e São Paulo, na capital, Ullanbaatar, onde uma foto do papa, cercada por velas, foi colocada sobre uma mesa decorada com flores em homenagem a ele.
A cerimônia foi conduzida pelo cardeal Giorgio Marengo, prefeito apostólico de Ulaanbaatar.
"Para nossa pequena comunidade na Mongólia, a visita significou muito", disse o cardeal Marengo à AFP.
"O fato do sucessor de São Pedro ter prestado atenção a essa pequena comunidade significou que o chefe da Igreja Católica apreciou os esforços dos missionários aqui, bem como as vidas e os sacrifícios de muitos fiéis mongóis", explicou.
- "Não é uma questão de números" -
A nomeação de Marengo como cardeal em 2022 e sua decisão de visitar a Mongólia no ano seguinte, foram interpretadas como uma demonstração poderosa da ação do papa em atender às "periferias", as comunidades distantes dos centros de poder.
"Recordemos as suas palavras inspiradoras quando nos visitou", disse Marengo. "Para que seu legado continue vivo, confio que a fé da nossa comunidade esteja pronta".
Durante sua visita ao extenso país, cuja a população está muito dispersa, o papa celebrou uma missa no estádio Steppe Arena de Ulaanbaatar, visitou seu principal templo budista e pediu maior harmonia entre suas diversas religiões.
Sua homilia, na qual ele pediu aos católicos mongóis que "se mantivessem próximos do povo, não distantes", ainda é citada nas paróquias locais.
A mensagem da papa repercutiu profundamente na irmã Salvia, de 70 anos, uma freira missionária que vive na Mongólia há mais de 15 anos.
"Para o Santo Padre, cada pessoa é importante. Com sua visita a esta pequena comunidade, mostrou que não é uma questão de números", disse.
Enkhjargal Enkhtsetseg, uma técnica em eletrônica, de 36 anos, também falou à AFP sobre sua empolgação com a viagem do papa.
"Como sua visita não havia ocorrido há muito tempo, os fiéis mongóis se sentiam muito próximos dele", comentou. "Esta notícia deve ter chocado muita gente".
- "Da maior importância" -
Mas os católicos não foram os únicos a honrar o legado de Francisco.
Nas redes sociais, o primeiro-ministro, Luvsannamsrain Oyun-Erdene, publicou: "Lamentamos profundamente a perda deste nobre homem, que humildemente se descreveu como 'Peregrino da Esperança'".
"O papa Francisco era um amigo próximo do povo mongol e o primeiro papa a fazer uma visita de Estado ao nosso país", acrescentou.
O Mosteiro Gandantegchinlin, o templo budista mais importante do país, também expressou suas "mais profundas condolências" pela morte de Francisco que, segundo o centro, "dedicou sua vida a promover a unidade, a compaixão e a paz em toda a humanidade".
Nesta quarta-feira, na catedral, havia um clima de devoção e reflexão, com os paroquianos acendendo velas e rezando.
"Perdemos alguém de extrema importância", disse Narmandakh Purevsuren, uma funcionária do escritório, de 25 anos.
"Mas o Santo Padre nos abençoará com outro grande pastor [...]. Como nosso papa Francisco sempre disse, vamos tentar o nosso melhor para sermos bons fiéis e compartilhar confiança, esperança e amor com nossas famílias e amigos".
H.Schmidtke--NRZ